De criança eu já previa o meu sofrimento
futuro.
Admirando ali as estrelas pipocando o breu do
firmamento.
Era eu e a minha irmã, sentadas no
batente da cozinha pertinho da minha avó que de cócoras exalava o seu encantador cheiro
de baforadas de cachimbo.
A minha avó apontava para as
constelações e explicava os nomes de cada uma
– Aquela ali é as três Marias. –
O cruzeiro do Sul. – O escorpião...
Eu ficava assim, bem juntinho
dela, aproveitando o seu cheirinho com uma dor no peito que eu não entendia
direito.
No fundo eu sabia, que aquelas
estrelas frias continuariam lá, brilhando quando a minha avó não existisse
mais.
Eu entendia que aquele
encantamento se perderia ali e que, no futuro, olhar as estrelas seria chamar a
dor da saudade para dentro de mim.
Depois aprendi que as estrelas,
coitadas, morrem também.
Mas, por uma justiça que eu ainda
não conheço, duram mais do que a vida de alguém.
(Ivana Lucena, 2014)
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