terça-feira, 14 de janeiro de 2014

MINHA VIDA NA GAIOLA

Não, não, não, não!

Definitivamente eu não nasci para gaiola. Não, eu não.
Já até experimentei uma vez. E olha que nem fui pego assim em armadilha. Acredita? Eu mesmo me entreguei. Vi o alçapão armado, entrei e... Pumba! Fiquei preso lá.
Confesso que me assustei um pouco. Mas era o meu sonho. Eu já tinha ouvido tantas histórias de como era bom viver em uma gaiola. Conforto, sossego, segurança, tratamento e comida do bom e do melhor...
Desde criança já havia decidido: - Quando crescer, quero morar em uma gaiola.
Passei a minha vida inteira pensando nisso. Sonhando com isso.
Ainda era bem jovem quando me entreguei.
Mas não antes de aproveitar bem muito a vida livre. Voei muito, me arrisquei muito por esse ceuzão de meu Deus. Conheci muitos pássaros, mas, a maioria sonhava como eu com o dia de sossegar em paz dentro de uma gaiola e ficar lá, cantando até ficar bem velhinho.
Por incrível que pareça no começo eu não estranhei muito, não. Era mesmo uma vida boa. Do jeito que eu imaginei.
Na sala onde eu ficava, viva cercado de outras gaiolas, de muitos outros pássaros, felizes como eu.
Aí, aconteceu uma coisa, um acidente. A porta da minha gaiola ficou com um defeito. Não fechava direito. Um dia percebi isso e, assim, sem nenhum plano, resolvi dar uma voltinha lá fora. Vi que o céu, continuava lá. Grande e azul. Não resisti, dei uma voadinha, mas, antes que alguém percebesse voltei para a gaiola. Para o meu lar.
Nos dias que se passaram a seguir, era a mesma coisa. Sempre que podia, ia lá, dava uma voadinha e voltava. Até o dia em que decidi definitivamente não voltar para a gaiola nunca mais.
Se tenho saudades da vida na gaiola? Nem sei. O que eu sei é que quase sempre a lembrança dela me acompanha nos voos e me puxa para baixo naquela vontade de repousar.


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