Não, não, não, não!
Definitivamente eu não nasci para gaiola. Não, eu não.
Já até experimentei uma vez. E olha que nem fui pego assim
em armadilha. Acredita? Eu mesmo me entreguei. Vi o alçapão armado, entrei e...
Pumba! Fiquei preso lá.
Confesso que me assustei um pouco. Mas era o meu sonho. Eu
já tinha ouvido tantas histórias de como era bom viver em uma gaiola. Conforto,
sossego, segurança, tratamento e comida do bom e do melhor...
Desde criança já havia decidido: - Quando crescer, quero
morar em uma gaiola.
Passei a minha vida inteira pensando nisso. Sonhando com
isso.
Ainda era bem jovem quando me entreguei.
Mas não antes de aproveitar bem muito a vida livre. Voei
muito, me arrisquei muito por esse ceuzão de meu Deus. Conheci muitos pássaros,
mas, a maioria sonhava como eu com o dia de sossegar em paz dentro de uma
gaiola e ficar lá, cantando até ficar bem velhinho.
Por incrível que pareça no começo eu não estranhei muito,
não. Era mesmo uma vida boa. Do jeito que eu imaginei.
Na sala onde eu ficava, viva cercado de outras gaiolas, de
muitos outros pássaros, felizes como eu.
Aí, aconteceu uma coisa, um acidente. A porta da minha
gaiola ficou com um defeito. Não fechava direito. Um dia percebi isso e, assim,
sem nenhum plano, resolvi dar uma voltinha lá fora. Vi que o céu, continuava
lá. Grande e azul. Não resisti, dei uma voadinha, mas, antes que alguém
percebesse voltei para a gaiola. Para o meu lar.
Nos dias que se passaram a seguir, era a mesma coisa. Sempre
que podia, ia lá, dava uma voadinha e voltava. Até o dia em que decidi
definitivamente não voltar para a gaiola nunca mais.
Se tenho saudades da vida na gaiola? Nem sei. O que eu sei é
que quase sempre a lembrança dela me acompanha nos voos e me puxa para baixo naquela
vontade de repousar.
Fantástico professora...
ResponderExcluirQue bom ter asas e...voar
ResponderExcluirQue pena ter uma gaiola para morar...
Beijo
Graça