segunda-feira, 23 de abril de 2018

AS EXPERIÊNCIAS DE DEUS



Com todo respeito a quem acredita e a quem não acredita, mas, sabem respeitar um ao outro.
Embora saiba que muita gente (tanto de um lado, como do outro)  não vai gostar de jeito nenhum da proposta de filosofar sobre Deus.
Aliás, só para tentar evitar um julgamento precipitado sobre o meu posicionamento com relação a acreditar na existência de Deus, esclareço:
 -Não me coloco de um lado nem do outro. Sou o que muitos acusam de “em cima do muro”, agnóstica.
Ah... tá bom, já chega de falar sobre mim, vamos falar sobre Deus que é a proposta.
Então...
Vamos começar pensando o seguinte:
Se Deus, o criador supremo de todas as coisas, existir de verdade, e, como acredita-se, for um ser constituído só de perfeição,  ele jamais poderia ter vaidade. Confere?
 Logo, ele não criou o homem com o propósito de adorá-lo.
Ou seja, mesmo que o homem entenda que ele mereça, essa é uma compreensão humana. Foi por outro motivo, muito mais sublime que ele o criou, porque a Deus não confere essa vontade vaidosa de ser adorado. Concorda?
Qual  teria sido então o motivo para Deus criar o homem?
- “Para ser Feliz”.
Essa é a resposta que mais corresponde a um ser de bondade elevadíssima. Não é mesmo?
Concordamos.
Assim, pensemos juntos agora:
 - Como prega a tradição cristã, “Deus criou o homem a sua imagem e semelhança”. Isso sempre foi incontestável.
Pergunto:
Porque então, essa criação ficou tão cheia de imperfeições, tão passível de paixões e corrupções?
Considerando que não poderia ter sido um erro, já que Deus é perfeito e não erra nunca, só pode ter sido proposital.  
Então, qual seria a intenção de Deus para criar um homem imperfeito?
Aquela história de “livre arbítrio”, não conseguirá ser a resposta aqui.
Então, vamos continuar:
Se ele mesmo já surgiu perfeito, desde o principio, e goza toda a eternidade da perfeição... porque não escolheu ser assim também para o homem?
Não havemos de pensar que, se assim o for:
Deus haveria gozado de benefícios que optou não oferecer ao homem?
Vamos usar uma parábola para nos ajudar a compreender melhor
- Havia uma criança que nascera em um barraco de uma suja e fedida favela, filho de uma mãe viciada em drogas e de um pai desconhecido. Ao lado dessa favela erguia-se um grande muro que ocultava belas casas em um condomínio cheio de gramado e flores, onde também nascera uma criança já com a promessa de crescer rodeado de carinho dos pais e da família e com a certeza de que seria educado nas melhores escolas. Então, respondam: As oportunidades dessas crianças são idênticas? E até quando vamos dizer que não importa a desigualdade de oportunidades, o que vale é o esforço de cada um?
Assim, voltando para Deus, pensemos:
Se ele nunca foi passível de condições para correr o risco de se corromper, se não teve que fazer esforços próprios para se tornar o bom, porque então sujeitou a sua criação a isso?
Só pensando...
Não seria muito mais “perfeito” fazer-nos todos perfeitos, realmente “à sua semelhança”?
Por outro lado, podemos também pensar que:
 Se considerarmos que é mesmo injusta a desigualdade de oportunidades para cobrar as mesmas conquistas, Deus, o perfeito, não cobraria de nós o que nunca precisou passar para provarmos que somos merecedores da felicidade eterna.  
Dessa forma, isso pode nos levar a refletir que:
Ele também teve que experimentar tudo e provou ser digno, venceu... não se corrompeu. Por isso acredita tão piamente no poder de cada um e, na sua infinita bondade, torce para que consigamos alcançar esse nível de elevação espiritual.
Por quais experiências teria passado então Deus?
Pelo menos, havemos de reconhecer que o tornou tão sábio a ponto de se distanciar do homem o suficiente para não se afetar por ele, enquanto torce por sua vitória.

(Ivana Lucena, abril de 2018)

sábado, 21 de janeiro de 2017

ENGANO

Basta-me uma estrela
Para lá fugirei o meu olhar
Até a minha alma a alcançar
Leva-me
Pois eu cá não suporto
A vida em que me enganei
A solidão em que te encontrei
O abismo que construístes para nós dois
Aos poucos transformou-se em ilusão
Tudo o que seria depois
Hoje o céu está nublado
Todas as estrelas se esconderam de mim
Terei que ficar por aqui
Até essa chuva chegar
Quem sabe descarregue toda a água
Quem sabe lave a minha alma
Quem sabe carregue essa mágoa
E arranque-me do peito essa culpa
De eu ter deixado me enganar

(Ivana Lucena)

sábado, 10 de dezembro de 2016

KARMA


Na viagem que eu fiz nestes dois dias atrás,   em uma cidade do interior do meu estado, pela qual eu passei, ouvi o carro de som anunciando a morte de um senhor.

Uma moradora da cidade  comentou comigo:
- Já é o 4° marido que essa Mulher enterra. Isso virou brincadeira de deboche, mandar alguém se casar com ela é como se desejasse a morte para o rapaz.

Essa história me fez pensar sobre mim.

Como uma ordem inveritda, Já passaram  em minha vida três relacionamentos em que as pessoas me perderam.

Mesmo avisadas do que aconteceria no futuro, não entenderam,  o resultado é que até hoje sofrem amargamente o luto dessa perda.

Me pergunto se sobre mim e sobre essa Mulher haverá algum  karma.

Será que ainda aparecerá alguém que vá quebrar esse Ciclo?

Todos sofrem em situações como essas. A diferença está em que quanto a morte não há nada o que se possa fazer, mas quanto as escolhas são chances que a vida dar. Nós somos os senhores do nosso destino neste momento. 

sábado, 3 de setembro de 2016

INSANIDADE


Eu me invento
Na solidão
O mundo me distancia
Da compreensão de mim
Represento papéis que não me representam
Testo sorrisos e frases
Sobrevivo
Só vivo
Entre os sobreviventes
À saudade do que desejei
Ao lamento do que não alcancei
À gratidão das migalhas que chegaram a mim
O tempo me esmaga
Exigente
Eu respondo em  interrogações.
(Ivana Lucena)

domingo, 10 de abril de 2016

DE-VAGAR


Hoje eu acordei praia
Caminho por mim
Areia solta
Deserta
Olhos de mar
As lagrimas que eu chovi
Limparam meu céu
E o azul se refaz
Convidando a vida
Para retomar
Mas a brisa 
Ainda sopra a lembrança
Da chuva caída
E controla meus passos
Para eu ir devagar


(Ivana Lucena)

sábado, 9 de abril de 2016

O SEU MUNDO EM MEU SONHO



Eu já nem lembrava mais ao certo o motivo pelo qual a gente se deixou. Naqueles dias primeiros, eu só conseguia pensar nas vantagens e nas desvantagens do rompimento. Tentava balancear para alcançar uma conclusão. O debate entre a razão e a emoção estava, certamente, longe de uma definição do melhor e, tampouco, livre de tendências para inclinações favoráveis a emoção. À essas alturas, o debate nada havia de imparcialidade, à todo instante me via planejando ou desejando que algo acontecesse para provocar a chance de um reencontro.  

Um desses devaneios em busca do reencontro levou-me a um espaço semelhante um alpendre de uma casa. Eu acabara de sair de dentro dela, envolta em um lençol que eu percebia cobrir-me sensualmente, mostrando um pouco do babydool  preto estampado de rosas e também um pouco do corpo, parte dos seios.  Eis que você surge à minha frente.

Não te reconheci de imediatamente pela figura, estavas magro, desvalido, olhar angustiado... Mas, te reconheci pelo cheiro, pela força que me atraia para ti... Eu te reconheceria em qualquer lugar, de qualquer forma. Esse é o pensamento que me ocorre agora relembrando a cena.

Lembro-me que na noite anterior a essa tua vinda, eu caminhei com pessoas que eu não conhecia profundamente, havia entre eu e essas uma afinidade provocada por mim mesma. Havia cachorros e crianças que provocaram um elo. Todos conversavam alegremente em uma casa espaçosa, de poucos móveis, era cerca de dez pessoas ou mais espalhadas pelos cômodos dessa casa e eu entrei como uma penetra, desapercebida, que aos poucos tentava se familiarizar.

Saindo da casa, as ruas já estavam escuras, mal iluminada pelas luzes amareladas dos postes e cobertas por árvores. Haviam também muitos galhos grandes derrubados pelo caminho estreito. Eu caminhava ao lado de uma mocinha que não demonstrava muita afinidade por mim. Ela carregava dois cachorrinhos brancos, da raça poodle e, de vez em quando, eu não resistia em fazer-lhes um carinho e uma graça para vê-los festejar. Por um instante, eu e ela tememos aqueles galhos caídos ao chão, do nosso lado. Parecia que alguém poderia se esconder ali e surgir repentinamente para nos fazer algum mal.

O que me lembro depois é de já está caminhado só, a tal mocinha parece haver ficado para trás ou tomado outro rumo. As ruas estavam desertas e encharcadas da chuva. Poças enormes me faziam alternar as calçadas e buscar estratégias para atravessá-las. Já não chovia, mas o céu mantinha a sua cor cinza com poucas luminosidade ao fundo, denunciando que o sol tentava forçar um amanhecer. O frio era suportável, apenas desconfortante, somava ao lugar a sensação de abandono e solidão.

Observei que um rapaz que caminhava ao meu lado sem que eu o notasse antes. Nós nos comunicávamos sem usar palavras. Ele tentava me garantir uma confiança mas não funcionava totalmente. Seguimos juntos, nesse diálogo mudo, até o final de uma rua, onde as águas desciam com uma força de eram puxadas para uma cachoeira. Ele deu-me a mão para pular um obstáculo. Senti na sua mão a capacidade de me puxar para algum lugar onde eu não desejaria ir e soltei-me imediatamente. Livrei-me da sua insistência de acompanhá-lo na entrada da sua casa e corri de volta para o inicio do caminho.

Não há memórias construídas de como eu consegui chegar em casa. O que aconteceu a seguir foi a cena da varanda, enrolada no lençol e a surpresa (esperada) da sua aparição.

Tudo seu era muito familiar, mas havia um vácuo entre nós. Eu atendi ao seu chamado e o segui pelas ruas, enrolada no lençol, chamando atenção das pessoas para a cena, tentando não dar muita importância a isso.

Lembrei-me de você haver me contado que havia se mudado para uma casa maior e percebi que estava me conduzindo até ela. De repente, aproveitei-me de um descuido seu, que caminhava olhando para trás apenas de vez em quando para se certificar de que eu o continuava seguindo, e escapei. Já não havia mais em mim a certeza de querer segui-lo.

Escondi-me por trás de umas ruínas de uma casa. A cabeça se esforçava para pensar rapidamente e tomar uma decisão. Eis que novamente aparece em meu caminho uma criança, sempre há uma criança... Esta parecia abandonada. Não soube me responder, apenas chorava. Coloquei-a em meus braços, consegui tranqüilizá-la. Atribui a criança uma justificativa para decidir procurá-lo. Voltei ao caminho e você já havia entrado na casa. Consegui localizá-la com facilidade. Eu estava com a criança em meus braços e você veio me receber trazendo outra criança nos seus.

A casa parecia um armazém. As paredes desgastadas, muito suprimento espalhados pelo chão, formando pilhas e pilhas de coisas como açúcar e enlatados. Haviam muitos colchões jogados pelo chão dos outros cômodos e muitas pessoas deitadas sobre eles. Uma sensação de tristeza e abandono de si mesmo brotava daquelas pessoas. Você parecia ignorar essas sensações e me apresentava euforicamente um por um.  

No meio da conversa, alguém informou sobre a fome que as crianças estavam passando. Não havia leite para elas, nem massa para fazer o mingau, foi o que o homem disse para você. Ouvi aquilo constrangidamente. Embora nenhuma solicitação me fosse dirigida, a sua imagem de cabeça abaixada, sem saber o que fazer, me impulsionou a ir comprar os itens que faltava e trazê-los para aquelas pessoas. Você e os outros receberam agradecidos, embora eu não percebesse alguma sensação de gratidão.

Por mais que eu sentisse uma necessidade de opinar sobre o que via em sua vida, naquela espécie de armazém cheio de pessoas pelos cantos, eu me controlava para não fazê-lo, pelo menos não com palavras, porque o meu olhar certamente denunciava os meus pensamentos.

Finalmente, você veio em minha direção com um sorriso informando que eles resolveram se mudar. No mesmo momento, um caminhão parou na frente da casa e as coisas, juntamente com as crianças e os adultos seguiram para uma cidade no interior do estado, para onde havia planos de colocarem um mercado e começar uma vida nova.


Nós dois ficamos parados observando o caminhão se afastar. Desse momento em diante, mais nada aconteceu. Eu acordei.  

segunda-feira, 4 de abril de 2016

VIAGEM INSÓLITA


Quanto ainda há em mim
Ao me ajustar a você?

Modelo o meu corpo
Modelo o meu mundo
Modelo o meu ser

Até onde conseguirei ir
Sem me perder?

Se o vento não ajudar
Espero ter fôlego
Para reviver

Revejo o meu corpo
Revelo o meu mundo
Retorno ao meu ser


  (Ivana Lucena)