domingo, 27 de abril de 2014

AS ESTRELAS FRIAS


De criança eu já previa o meu sofrimento futuro.

 Admirando ali as estrelas pipocando o breu do firmamento.

Era eu e a minha irmã, sentadas no batente da cozinha pertinho da minha avó  que de cócoras exalava o seu encantador cheiro de baforadas de cachimbo.

A minha avó apontava para as constelações e explicava os nomes de cada uma

– Aquela ali é as três Marias. – O cruzeiro do Sul. – O escorpião...

Eu ficava assim, bem juntinho dela, aproveitando o seu cheirinho com uma dor no peito que eu não entendia direito.

No fundo eu sabia, que aquelas estrelas frias continuariam lá, brilhando quando a minha avó não existisse mais.

Eu entendia que aquele encantamento se perderia ali e que, no futuro, olhar as estrelas seria chamar a dor da saudade para dentro de mim.

Depois aprendi que as estrelas, coitadas, morrem também.

Mas, por uma justiça que eu ainda não conheço, duram mais do que a vida de alguém.

(Ivana Lucena, 2014)


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domingo, 13 de abril de 2014

OS COLABORADORES DE DEUS

Eu, criança de cidade e sítio
Prestando atenção nos matos e bichos
Costumava  dizer
Que Deus na imponência do ato de criação
Com certeza houvera de contar com a colaboração
De anjinhos pintores e artesãos
Hoje quando observo as florzinhas minúsculas dos campos
E os detalhes miúdos das asas de uma borboleta
Reforça em mim aquela certeza
Como poderia então...
Pensava eu criança,
Um Deus ocupado com tanta grandiosidade de coisas na criação
Parar para desenhar minúsculos detalhes
Com tanta concentração?
E  que, ainda por cima,
Na maioria das vezes
Permaneceriam escondidinhos
Lá dentro do mato
Onde ninguém ia ver
Ah, com certeza Deus tinha mais o que fazer.
A minha tese estava correta
Só os anjinhos artistas
Colaboradores da criação
Fariam risquinhos tão finihos
Detalhes de cores tão delicadinhos
Perdendo um monte tempo
Entretidos em tanta precisão
E pelo que vejo de variedade e beleza
Devia de haver uma competição
...Ah, não... Isso aí também não.
Pois todo mundo sabe
Que Deus só aceita ajuda
Quando vem do coração.
Um Viva à Natureza, então
Um Viva à Deus criador
E aos anjinhos artesãos
Os Indispensáveis colaboradores
do ato da Criação.

(Ivana Lucena, 2014)